No lugar indicado construíram o altar, e sobre o mesmo colocaram a lenha. Então, com voz trêmula, Abraão desvendou a seu filho a mensagem divina. Foi com terror e espanto que Isaque soube de sua sorte; mas não opôs resistência. Poderia escapar deste destino, se o houvesse preferido fazer; o ancião, ferido de pesares, exausto com as lutas daqueles três dias terríveis, não poderia ter-se oposto à vontade do vigoroso jovem. Isaque, porém, tinha sido educado desde a meninice a uma obediência pronta e confiante, e, ao ser o propósito de Deus manifesto perante ele, entregou-se com voluntária submissão. Era participante da fé de Abraão, e sentia-se honrado sendo chamado a dar a vida em oferta a Deus. Com ternura procura aliviar a dor do pai, e auxilia-lhe as mãos desfalecidas a amarrarem as cordas que o prendem ao altar.
E
agora as últimas palavras de amor são proferidas, as últimas lágrimas
derramadas, o último abraço dado. O pai levanta o cutelo para matar o
filho, quando o braço subitamente lhe é detido. Um anjo de Deus chama do
Céu o patriarca: "Abraão, Abraão!" Ele rapidamente responde: "Eis-me
aqui". E de novo se ouve a voz: "Não estendas a tua mão sobre o moço, e
não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me
negaste o teu filho, o teu único". Gên. 22:11-18.
No
Monte Moriá Deus outra vez renovou Seu concerto, confirmando com
juramento solene a bênção a Abraão e sua semente, por todas as gerações
vindouras: "Por Mim mesmo, jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta
ação, e não Me negaste o teu filho, o teu único, que deveras te
abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as
estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua
semente possuirá a porta dos seus inimigos; e em tua semente serão
benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à Minha voz."
O
grande ato de fé, de Abraão, permanece como uma coluna de luz,
iluminando o caminho dos servos de Deus em todos os séculos
subseqüentes. Abraão não procurou esquivar-se de fazer a vontade de
Deus. Durante aquela viagem de três dias, ele teve tempo suficiente para
raciocinar, e para duvidar de Deus se estivesse disposto a isto.
Poderia ter raciocinado que o tirar a vida a seu filho fá-lo-ia ser
considerado como um homicida, um segundo Caim; que isto faria com que
seu ensino fosse rejeitado e desprezado, e assim destruiria o seu poder
para fazer bem a seus semelhantes. Poderia ter alegado que a idade o
dispensaria da obediência. Mas o patriarca não procurou refúgio em
qualquer dessas desculpas. Abraão era humano; suas paixões e afeições
eram semelhantes às nossas; mas não se deteve a discutir como a promessa
poderia cumprir-se caso Isaque fosse morto. Não se deteve a arrazoar
com o seu coração dolorido. Sabia que Deus é justo e reto em todas as
Suas reivindicações, e à risca obedeceu à ordem.
(Ellen G. White, Patriarcas e Profetas)