quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Tempo antes do dilúvio


O Dilúvio 

    Nos dias de Noé uma dupla maldição repousava sobre a Terra, em conseqüência da transgressão de Adão e do homicídio perpetrado por Caim. Isto, contudo, não havia grandemente modificado a face da Natureza. Existiam indícios evidentes de decadência, mas a Terra ainda era rica e bela com os dons da providência de Deus. As colinas estavam coroadas de árvores majestosas, que sustentavam os ramos carregados de frutos das trepadeiras. As planícies vastas e semelhantes a jardins estavam revestidas de verdor, e exalavam a fragrância de milhares de flores. Os frutos da Terra eram de grande variedade, e quase sem limites. As árvores sobrepujavam em tamanho, beleza e proporção perfeita, a qualquer que hoje exista; sua madeira era de belo veio e dura substância, assemelhando-se em muito à pedra, e quase tão durável como esta. Ouro, prata e pedras preciosas existiam em abundância. 
    A raça humana conservava ainda muito do seu primitivo vigor. Apenas poucas gerações se passaram desde que Adão tivera acesso à árvore que devia prolongar a vida; e a existência do homem ainda se media por séculos. Houvesse aquele povo de longa vida, com suas raras capacidades para planejar e executar, se dedicado ao serviço de Deus, e teriam feito do nome de seu Criador um louvor na Terra, e correspondido ao propósito por que Ele lhes dera a vida. Eles, porém, deixaram de fazer isto. Havia muitos gigantes, homens de grande estatura e força, afamados por sua sabedoria, hábeis ao imaginar as mais artificiosas e maravilhosas obras; sua culpa, porém, ao dar rédeas soltas à iniqüidade, estava em proporção com sua perícia e habilidade mental. 
    Deus outorgara a esses antediluvianos muitas e ricas dádivas; mas usaram a Sua generosidade para se glorificarem, e as tornaram em maldição, fixando suas afeições nos dons em vez de no Doador. Empregaram o ouro e a prata, as pedras preciosas e as madeiras finas, na construção de habitações para si, e se esforçaram por sobrepujar uns aos outros no embelezamento de suas moradas, com a mais destra mão-de-obra. Procuravam tão-somente satisfazer os desejos de seu orgulhoso coração, e folgavam em cenas de prazer e impiedade. Não desejando conservar a Deus em seu conhecimento, logo vieram a negar a Sua existência. Adoravam a Natureza em lugar do Deus da Natureza. Glorificavam o gênio humano, adoravam as obras de suas próprias mãos, e ensinavam seus filhos a curvar-se ante imagens de escultura. 
    Nos campos verdejantes, e à sombra das esplêndidas árvores, construíram os altares de seus ídolos. Bosques extensos, que conservavam a folhagem durante o ano todo, eram dedicados ao culto dos deuses falsos. A estes bosques ligavam-se belos jardins, sobrepondo-se, às suas longas e serpeantes ruas, árvores frutíferas de todos os tipos, sendo essas alamedas adornadas com estátuas, e dotadas de todas as coisas que poderiam deleitar os sentidos ou servir aos desejos pecaminosos do povo, e assim induzi-los a participar do culto idólatra. 
    Os homens excluíram a Deus de seu conhecimento, e adoraram as criaturas de sua própria imaginação; e, como resultado, se tornaram mais e mais aviltados. O salmista descreve o efeito que sobre o adorador de ídolos é produzido por tal culto. Diz ele: "Tornam-se semelhantes a eles os que os fazem, e todos os que neles confiam." Sal. 115:8. É uma lei do espírito humano que, pelo contemplar, somos transformados. O homem não se elevará acima de suas concepções sobre a verdade, pureza e santidade. Se o espírito nunca é exaltado acima do nível da humanidade, se não é pela fé elevado a contemplar a sabedoria e o amor infinitos, o homem estará constantemente a submergir mais e mais. Os adoradores de deuses falsos vestiram suas divindades com atributos e paixões humanas, e assim sua norma de caráter se degradou à semelhança da humanidade pecadora. Corromperam-se conseqüentemente. "Viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente." "A Terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a Terra de violência." Gên. 6:5 e 11. Deus dera ao homem os Seus mandamentos, como regra da vida; mas Sua lei era transgredida, e todos os pecados imagináveis foram o resultado. A impiedade do homem era franca e ousada, a justiça pisada no pó, e os clamores dos opressos chegava até o Céu. 

(Ellen G. White, Patriarcas e Profetas)

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