Ali resolveram edificar uma cidade, e nela uma torre de altura tão estupenda que havia de torná-la uma maravilha do mundo.
Estes empreendimentos destinavam-se a impedir que o povo se espalhasse
ao longe, em colônias. Deus determinara que os homens se dispersassem
pela Terra toda, para povoá-la e subjugá-la; mas estes construtores de
Babel resolveram conservar unida a sua comunidade, em um corpo, e fundar
uma monarquia que finalmente abrangesse a Terra inteira. Assim, a sua
cidade tornar-se-ia a metrópole de um império universal; sua glória
imporia a admiração e homenagem do mundo, e tornaria ilustres os
fundadores. A magnificente torre, atingindo os céus, tinha por fim
permanecer como um monumento do poder e sabedoria de seus construtores,
perpetuando a sua fama até as últimas gerações.
Os
moradores da planície de Sinear não criam no concerto de Deus de que
não mais traria um dilúvio sobre a Terra. Muitos deles negavam a
existência de Deus, e atribuíam o dilúvio à operação de causas naturais.
Outros criam em um Ser supremo, e que fora Ele que destruíra o mundo
antediluviano; e seu coração, como o de Caim, ergueu-se em rebelião
contra aquele Ser. Um objetivo que tinham na construção da torre era
garantir sua segurança em caso de outro dilúvio. Elevando a construção a
uma altura muito maior do que a que foi atingida pelas águas do
dilúvio, julgavam colocar-se fora de toda possibilidade de perigo. E,
como pudessem subir à região das nuvens, esperavam certificar-se da
causa do dilúvio. Todo o empreendimento destinava-se a exaltar ainda
mais o orgulho dos que o projetaram, e desviar de Deus a mente das
futuras gerações e levá-las à idolatria.
Quando
a torre se completara parcialmente, parte dela foi ocupada como
habitação de seus construtores; outros compartimentos, esplendidamente
aparelhados e ornamentados, eram dedicados a seus ídolos. O povo
regozijava-se com o seu êxito, e louvava os deuses de prata e ouro, e
colocavam-se em oposição ao Governador do Céu e da Terra. Súbito
sustou-se a obra que estivera avançando tão prosperamente. Anjos foram
enviados para reduzir a nada o propósito dos edificadores. A torre havia
alcançado uma grande altura, e era impossível aos trabalhadores no cimo
comunicar-se diretamente com os que estavam na base; portanto foram
estacionados homens em diferentes pontos, devendo cada um receber os
pedidos de material de que se necessitava, ou outras instruções
relativas à obra, e transmiti-las ao que estava imediatamente abaixo.
Passando assim os avisos de um para o outro, foi confundida a língua, de
modo que se pedia material de que não havia necessidade, e as
instruções transmitidas eram
muitas vezes o contrário das que tinham sido dadas. Seguiram-se a
confusão e o desânimo. Todo o trabalho paralisou-se. Não mais podia
haver harmonia ou cooperação. Os edificadores eram inteiramente
incapazes de dar a razão dos estranhos mal-entendidos entre eles, e em
sua raiva e decepção, censuravam uns aos outros. Terminou sua
confederação em contenda e carnificina. Raios do céu, como prova do
desagrado de Deus, quebraram a parte superior da torre, e a lançaram ao
solo. Os homens foram levados a compenetrar-se de que há um Deus que
governa nos Céus.
Até
aquele tempo todos os homens falavam a mesma língua; agora, aqueles que
compreendiam a fala uns dos outros, uniram-se em grupos; alguns foram
para um lado, outros para outro. "O Senhor os espalhou dali sobre a face
de toda a Terra." Gên. 11:8. Esta dispersão foi o meio de povoar a
Terra; e assim o propósito do Senhor se cumpriu pelo próprio meio que os
homens haviam empregado para impedir a sua realização.
Mas
com que perda para aqueles que se colocaram contra Deus! Era Seu
propósito que, ao saírem os homens para fundarem nações nas várias
partes da Terra, levassem consigo o conhecimento de Sua vontade, para
que a luz da verdade pudesse resplandecer com todo o brilho às gerações
que se sucedessem. Noé, o fiel pregoeiro da justiça, viveu trezentos e
cinqüenta anos depois do dilúvio, e Sem quinhentos anos; e assim seus
descendentes tiveram oportunidade de familiarizar-se com os mandos de
Deus e a história de Seu trato para com os pais. Estavam, porém,
indispostos a ouvir estas verdades, que lhes desagradavam; não tinham o
desejo de conservar a Deus em seu conhecimento; e pela confusão das
línguas ficaram em grande medida excluídos do intercâmbio com aqueles
que lhes poderiam proporcionar luz.
(Ellen G. White, Patriarcas e Profetas)
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